quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ser


Somos o que viemos ser, 
nem uma gota de sangue depois,
nem um sopro antes...

Somos o que viemos ser,
o verbo que rasga a carne,
a substância que salga a terra.

Somos o que viemos ser,
a rosa que perfuma,
o espinho que machuca.

Somos o que viemos ser,
o doce que envenena,
o amargo que cura.

Somos o que viemos ser,
o sol que cega,
a tempestade que grita.

Somos o que viemos ser,
o espelho côncavo,
de uma humanidade convexa.

Somos o que viemos ser,
o desafio de persistir,
sem derrota e sem vitória.

Somos o que viemos ser,
sem certo,
sem errado.

Somos o que viemos ser,
sem eira,
sem beira.

Somos o que viemos ser,
sem régua,
sem compasso.

Somos o que viemos ser,
a borboleta sem casulo,
a cebola sem casca.

Somos o que viemos ser,
infinito
particular
na unidade e no plural!

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Infinito

O outro que eu vejo diante de mim
está além do que eu determino,
pois a arte que se faz
é a de dar infinito ao olhar
que parte do meu ponto
e encontra o seu contraponto.






quinta-feira, 18 de março de 2010

Vida


Temer o mundo, se é o útero do meu profundo ?
Temer a tela, se é projeção da minha janela ?

Nem inimigos, nem adversários,
são apenas outras facetas
das minhas caretas...

Estufo o peito,
nem esquerdo e nem direito...
Viver plena é apenas o único jeito!


Ego

Só briga quem tem ego!
Nunca vi formiga brigando com cigarra
Nem muito menos cravo com a rosa.
Que dirá lírio invejando girassol...

A nossa pura essência anseia
ir além das adjetivações...
É um retorno à inocência
desconstruindo ilusões!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Canção

Certo e errado foram o gato e o rato.
Violinos alternando a voraz perseguição.
Dei adeus a esse leitmotiv que regia minha ópera!
Chega de allegros de perfeição!

Quero mais é um sambinha de cordas
sem muita pretensão.
Aceitando cada ato, cada fato
cada nota... da minha nova canção!




Prisma

A existência brinca com seus prismas.
Erguemos bandeiras, defendemos fronteiras, dimensionamos espaços...
fazemos a música matemática milimétrica de nossos traços...
Os contornos que nos definem...as réguas que nos armam...

Arranque todo o fracionamento da cor e o que sobra?

O branco do olho de todo mundo é igual.

Somos diferentes no plural.
Somos inteiros nas metades.
Somos paradoxos em nossos uniViVersos particulares.
Somos a poesia pura na arte que se inventa,
Somos o nós e o todo, somos o eu e o nada.
Somos vazios absolutos em copos cheios de marra.


Natural

Quantas colas foram usadas para me montar?
Quantos rótulos para me definir?
Quantos acessórios para me ornar?
O trajeto ao inverso é solitário...
Descascar tantos gomos...
Despedaçar tantas vozes...
Desconstruir tantos conceitos...

Nudez

Tirei a sandália e pisei na terra.
Tirei o vestido e molhei o corpo.
Tirei a máscara e abri os olhos.
Tirei a pele e verti o sangue.
Tirei o personagem e despi o SER.


Asas

Chove nos dedos
as tintas do coração
no vermelho rubro intenso
vou sangrando, singrando, flutuando...
Ser somente ser, nas asas da singularidade
Ser somente ser:
extraordinário inefável fabuloso momento único
de existir no Agora.